sexta-feira, 4 de junho de 2010

3/6 - Apartheid nunca mais!

03/06
Albergue Carnival, Cidade do Cabo, 20h30
tempo: nublado, frio (chegou a chover por uma meia hora)
bicicleta: km87

Li em algum lugar que o tempo aqui na Cidade do Cabo é imprevisível, podendo mudar de repente. Hoje, por exemplo, amanheceu frio e nublado, o sol apareceu ao meio dia, e depois a temperatura abaixou bastante, tendo até chovido. Se, ontem, fiquei algumas horas sem camisa, hoje tive que usar um moleton.
Finalmente, minha bicicleta está com todos os seus acessórios em ordem – para substituir a buzina que quebrou no avião, estilo “tlin-tlin”, consegui achar outra, no autêntico estilo “fon-fon”, do Chacrinha!
Pela primeira vez, tive uma forte emoção, que me fez chorar – se me conheço bem, esta não será a última...


Ilha de Robben (15h – 18h30)
O passeio hoje foi à ilha de Robben. Por R$50,00, tomei um barco no píer próximo ao V & A Waterfront, e, em meia hora, aportei na ilha. O barco, para quase 300 passageiros, estava com menos da metade da sua capacidade – suponho que com tempo mais aberto, em finais de semana, a procura seja bem maior.
Ao chegarmos, fomos divididos em 2 grupos, cada um num ônibus. A princípio, nosso grupo fez um tour pela ilha. Nosso guia, muito bem humorado, deu detalhadas e curiosas explicações. “Robben”, em holandês, significa “gaivotas” – de fato, há muitas ali. Mas o que chama mesmo a atenção é a quantidade de pinguins, que podem ser vistos soltos, correndo de um jeito que parecem imitar o Carlitos de Chaplin...
A ilha já teve diversos usos. Por algum tempo, lá eram mantidos isolados portadores de lepra. Mas sua fama vem de um presídio – hoje museu – que, durante o período do Apartheid, abrigou alguns líderes de comunidades negras – dentre eles, Nelson Mandela, que lá ficou detido por 26 anos!
A visita ao antigo presídio foi guiada por um ex-prisioneiro, que lá viveu durante 8 anos. Ele contou detalhes terríveis – os castigos, as diferenças no tratamento dos presos em função de sua raça e de seu comportamento, o trabalho forçado numa mina... O ponto alto do tour foi a visita à minúscula cela de Mandela – que procura mostrar o aspecto que tinha na época em que ele lá esteve, inclusive com o fino cobertor que lhe servia de “colchão”.
Há mais ou menos um ano e meio assisti no cinema a um ótimo documentário sobre o período em que Mandela esteve preso... foi bem interessante poder estar em alguns dos locais retratados no filme.
Um pena que o tempo estivesse tão nublado... senão, teria sido bem legal ver o pôr-do-sol durante a travessia de regresso, com a vista da Cidade do Cabo iluminada...


Emoção (14h)
Antes de embarcar, sem conhecer o “esquema” do passeio, achei que poderia levar a bicicleta comigo no barco, para dar umas pedaladas na ilha. Quem me explicou que isso não seria possível foi a gerente do cais do embarque, a Phyllis – uma negra gorda e muito simpática. Logo que me viu com a camisa do Brasil, fez a maior festa. Para variar, reclamou da ausência do Ronaldinho – mas ela gosta muito do Kaká. Aqui, foram umas 6 fitinhas – 2 netos, 3 colegas de trabalho... Ela me mostrou umas fotos da ilha, e contou algumas histórias da época do Apartheid. No fim, me disse que esteve presa por 6 anos (não no presídio da ilha, reservado exclusivamente aos homens). Quando lhe perguntei o motivo de sua prisão, ela me disse: “Just because I’m black!” Depois de ter dado tanta risada com ela, não me contive... e chorei!


Parreira confiante (19h30)
Ouvi no rádio uma entrevista do Carlos Alberto Parreira, técnico da África do Sul, num inglês fluente. Aliás, a Phyllis comentou que o Joel Santana, que o antecedeu, além dos maus resultados, teve, de fato, muita dificuldade com o idioma. E, ainda por cima, era chamado de “Satana”, ou “Diabo”. Foi mesmo um desastre.
Já o Parreira é muito admirado por aqui. Voltando à entrevista, ele se mostrou bastante confiante num bom resultado no jogo de abertura contra o México, e pediu para todos os torcedores levarem sua vuvuzela, e fazerem bastante barulho. Já estou com a minha – verde-amarela – preparada para incentivar os Bafana Bafana... com uma pontinha de amargura por torcer contra o México...
Por outro lado, é bem evidente a torcida dos sul-africanos pelo Brasil. Deu no jornal: caso a África do Sul seja eliminada, 26% deles irão torcer para nós, e 11% que torcerão para a Inglaterra. Parece que o nosso percentual aumentou bastante depois que um ciclista meio maluco passou a distribuir fitinhas verde-amarelas aos nativos...

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