terça-feira, 15 de junho de 2010

11/6 - Socorro! Minha carteira sumiu!!!

estação de embarque de ônibus do SoccerCity Stadium, Johanesburgo, 19h30
tempo: sol, céu azul, agora frio
bicicleta: km235
fitinhas (número estimado e acumulado): 80
jogos presenciados no estádio: 1

África do Sul 1 x 1 México
Uruguai 0 x 0 França

Que eu faço agora? Como eu vou fazer para voltar para a casa do Soummo???
Estou neste fim de mundo, a 26km da casa em que estou hospedado, o celular não está com sinal, minha bicicleta ficou num posto de gasolina a 40min a pé daqui – com o pneu traseiro furado, estou apertado numa fila para comprar uma passagem de ônibus só até menos da metade do caminho, já escureceu nesta cidade em que tudo fecha à noite... e acabo de descobrir que minha carteira sumiu!!!


Bafana Bafana e mexicanos perfilados para a execução dos hinos nacionais - primeiro jogo de Copa do Mundo na África
no meio da torcida sul-africana, uma bandeira brasileira!


tampa de um bueiro, no interior do enorme estádio SoccerCity

a bicicleta não chegou...

Nunca antes neste... continente!
De manhã, estava ansioso. Pela segunda vez na vida, iria ver uma abertura de Copa do Mundo. A primeira foi especial – estádio de Saint Denis, na França, jogo entre o então campeão do mundo Brasil e a Escócia.
Desta vez, a expectativa também era bem grande. O Brasil não iria jogar, mas eu iria poder presenciar o primeiro jogo de uma Copa do Mundo disputado na África!
Ruas escuras e desertas
A volta do show, ontem, foi bem complicada – foi difícil pegar um dos ônibus especiais, que iam só até o centro da cidade, a 16km de Sandton, onde me hospedo. Quando perguntei a algumas pessoas do ônibus como fazer para ir a Sandton, elas ficaram apavoradas! Uma senhora falou com o motorista do ônibus, e ele pediu que esperássemos, porque ele iria chamar uma van, que aqui eles chamam de táxi. Tivemos que aguardar dentro do ônibus – a senhora não nos queria deixar descer naquelas ruas escuras e desertas do centro de Johanesburgo. O ônibus só partiu quando a van chegou, e nos levou, sãos e salvos, a nossos destinos – além de mim e do Soummo, mais o mineiro Márcio, e 5 mexicanos.
Tudo pára às 19h
Eu já tinha ouvido no Brasil que não era seguro andar por Johanesburgo à noite. Mas confesso que não estava acreditando muito nessa história.
Porém, agora, minha visão é um pouquinho diferente. Comecei a estranhar quando constatei que a maioria das lojas do shopping próximo à casa do Soummo fecha às 5h – às 7h, fecham o supermercado e os restaurantes!
Transporte público
Ainda no ônibus que me trouxe da Cidade do Cabo, perguntei a um passageiro se haveria transporte público para Sandton. Ele me respondeu: “Sim, táxis!” “E ônibus ou trens?”, perguntei. “No, only taxis!”.
Achei muito estranho ele considerar um táxi como transporte público... Achei que ele não entendeu minha pergunta, ou eu não entendi sua resposta.
Mas, na verdade, o que aqui é chamado de táxi, nós aí chamamos de “lotação”, ou de “van”. Há muitas delas por aqui, que transportam até 12 ou 15 pessoas, e que cobram uma média de R$2,00 por pessoa (dependendo da distância).
A outra opção são os “cabs”, que nós chamamos de táxi. Mas o preço é bem mais alto – coisa de R$20,00 para uma distância de uns 15km. Mas, com a invasão de turistas estrangeiros, alguns motoristas chegam a pedir até R$100,00 por pessoa por uma corrida noturna!
Há, também, umas poucas linhas de ônibus, que circulam principalmente durante a semana, nos horários de pico. E uma pequena linha de trens. Mas há poucos ônibus e nenhuma linha de trem ligando Sandton ao centro – uma distância de 16km. Muito menos ao SoccerCity, estádio onde ocorreu a abertura da Copa, que fica 10km depois do centro, para quem vai de Sandton.

Decisão tomada!
Devido à má experiência da noite anterior, decidi: vou de bicicleta! Saio cedo, com calma – a cerimônia de abertura começaria às 14h – e, na volta, venho “no pique”! Estimei a ida em 3h, e a volta em 2h – 26km em cada direção.
Mas... e o caminho??? Felizmente, o Soummo tem um guia de ruas bem detalhado. Fiz, então, um roteiro que, embora evitasse as “free-ways”, procurava ter um mínimo de desvios – até chegar ao estádio, seriam apenas cerca de 10 vias diferentes – tudo devidamente anotado num mapa que desenhei numa folha de papel, para não ter que levar o pesado guia.
Procurei ir o mais “leve” possível: nenhuma mochila, apenas a câmera fotográfica, o celular, a carteira – só com um dos 3 cartões, e pouco dinheiro – e duas dúzias de fitinhas.

“Lá na estrada em curva tem um furo no pneu - e não temos Michelin para consertar!”
Até chegar no centro foi tudo tranqüilo. Só no começo, em Sandton, havia trânsito, e uma grande agitação – afinal, era o dia de estréia dos Bafana Bafana.
O centro da cidade também estava bastante agitado. Cheguei lá por volta do meio-dia. Percebi que o comércio estava fechando, e imaginei que todos estavam procurando ir para casa o mais cedo possível, para se preparar para o grande jogo. Muitas vuvuzelas e camisetas amarelas da seleção.
Entrei na antepenúltima via do meu trajeto – a “Main Reef” – uma longa avenida, que sai do centro rumo ao oeste. Percebi que atravessei um bairro bem popular, mas me senti seguro.
Entrei à esquerda, na penúltima conversão, em frente a um hipermercado popular, de nome “Jumbo”. Era uma grande descida. Pensei na foto que eu faria da bicicleta, na frente do estádio, que devia estar a uns 3km dali.
Foi quando senti algo diferente, e ouvi um barulho que nenhum ciclista gosta de ouvir... um enorme prego de uns 5cm tinha acabado de furar meu pneu traseiro!

Caminhada
Olhei para o relógio. Faltava apenas uma hora para o início da cerimônia de abertura. Eu estava sem ferramentas e sem a câmara de reserva. Decidi voltar, e procurar um borracheiro. Achei um posto de gasolina, onde me indicaram uma loja de pneus, na Main Reef, perto de um outro posto. Andando mais rápido do que os carros que iam em direção ao estádio, empurrei a bicicleta até esse posto – mais ou menos 1km. A loja estava fechada...
Quase uma e meia da tarde. Decidi deixar a bicicleta no posto, e voltar para pegá-la amanhã, sábado. Falei com 3 frentistas antes de acharem o gerente do posto – 4 fitinhas! Este último arranjou um quartinho fechado com chave. Ele disse que estaria lá amanhã de manhã.
Pensei em pedir carona para algum carro, mas o trânsito estava tão lento, que decidi caminhar. Logo pude ver o estádio... percebi que não conseguiria chegar às 2h. Corri alguns metros... Cansei. Continuei caminhando...
Já próximo ao estádio, exatamente às 2h, quando alguns aviões deram rasantes – supus ser a abertura da cerimônia – notei que havia uma longa fila para entrar, que andava muito lentamente. Relaxei... a cerimônia de abertura estava mesmo perdida. Tirei uma foto do estádio, sem a bicicleta... e fui para a fila.

África do Sul 1 x 1 México
Entrei no estádio decidido a torcer para os Bafana Bafana... e torci, mas não com tanta devoção assim. Gosto do México – nos Estados Unidos, em 1994, a sensação era de que havia mais mexicanos que brasileiros torcendo para o Brasil!
O primeiro tempo do jogo foi muito ruim – os dois times pareciam nervosos – mas o segundo tempo foi bem movimentado. O gol da África do Sul foi muito bonito... e muito comemorado! Fiquei muito emocionado – considero ter presenciado um momento que entrou na história dos Mundiais. Uma pena que o time não tenha convertido algumas das boas oportunidades que criou... e acabou permitindo o empate dos mexicanos, conseguido mais na base da experiência.
Ao final, os sul-africanos pareciam um pouco decepcionados. Mas acho que o resultado foi bom para eles.

Cadê a carteira?
Para voltar, decidi pegar um ônibus até o centro, e, dali, tentar pegar um táxi até Sandton. Ao chegar aqui na estação de embarque nos ônibus, estava cheio de gente. Entrei na fila de embarque, mas, como estava sem a passagem, tive que ir até a bilheteria.
Fui pegar a carteira para pagar o bilhete... e onde ela está??? Meus bolsos estão cheios – celular, máquina fotográfica, balas, chave de casa, fitinhas – mas a carteira não está mais lá!
Cheguei a me sentar no chão, com a cabeça entre as mãos. Mas isso não vai me levar a nada...
Preciso ir à luta... e arrumar um jeito de voltar para casa!


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