quinta-feira, 15 de julho de 2010

13/7 - Preguiça

casa do Soummo, Sandton, Johanesburgo, 23h30
tempo: sol, céu azul, agora frio
bicicleta: km525, pneus furados: 2
fitinhas (número estimado e acumulado): 300
jogos presenciados no estádio: 10

Para fugir dos altos preços, comprei a passagem com a volta para São Paulo marcada para o dia 26, a partir da Cidade do Cabo, com uma escala aqui em Johanesburgo. Neste período pós-Copa, pensei em fazer uns passeios por aqui – talvez até o Parque Kruger, ou a algum país vizinho (Moçambique, Zimbábwe...).
Mas confesso que, agora, estou meio “preguiçoso”... deve ter baixado meu nível de “adrenalina”, que me compelia a procurar novas aventuras. Até mesmo um passeio menos “radical”, até a praia, em Durban – que planejei para este começo de semana – acabei adiando para a semana que vem.
Além do fim da Copa, o principal motivo para isso é a agradável companhia do Soummo – embora trabalhando durante todo o dia, sempre o vejo de manhã e à noite – e o conforto das “mordomias” que tenho em sua casa.
Assim, resolvi ir até o aeroporto, ao balcão da South African, para solicitar o cancelamento do trecho Cabo >Johanesburgo. Dessa forma, não precisarei voltar à Cidade do Cabo – meu embarque para São Paulo será aqui mesmo, no dia 26 – daqui a 2 segundas-feiras.


Gautrein
A província em que se localiza Johanesburgo – a menor em área do país, mas a mais importante economicamente – se chama “Gauteng”, que significa “lugar do ouro”, e se pronuncia “Rauteng” – o “G” holandês tem som de “R”.
Antes mesmo de o país ser indicado para sediar a Copa de 2010, foi projetado o “Gautrain” – o trem de Gauteng – uma moderna linha ferroviária de quase 100km de extensão, interligando o aeroporto O.R. Tambo e os centros de Johanesburgo e de Pretória. Pretendia-se que o Gautrain já estivesse em operação plena para a Copa – no entanto, atrasos provocados pelas mais diversas razões fizeram com que, às vésperas do início dos jogos, apenas um trecho de uns 20km e 4 estações tivesse sido inaugurado. Pode-se notar que o restante da linha está em obras, mas sua inauguração só deve ocorrer no ano que vem.
Esse trecho já inaugurado liga a estação do centro do sofisticado bairro de Sandton – a cerca de 1km da casa do Soummo – ao aeroporto, passando pelas estações de Marlboro e Rhodesfield – dois bairros de classe média-baixa.
Para os turistas que se hospedaram nos luxuosos hotéis de Sandton, o Gautrein foi bem conveniente – para irem ou virem do aeroporto, em vez de gastarem uns 40min (com trânsito) e R$100,00, gastam agora menos de 20min e R$25,00.

Há, porém, um detalhe bem estranho no funcionamento do trem.
Cada composição tem 4 vagões. No embarque, na estação terminal de Sandton, os passageiros que se destinam ao aeroporto devem ocupar os 2 vagões da frente; os 2 vagões traseiros são para os que se destinam às estações intermediárias de Marlboro e Rhodesfield – isto porque, nestas estações, no trem que vai rumo ao aeroporto, as portas dos vagões da frente não se abrem! Já na estação terminal do aeroporto, são as portas dos vagões de trás que não abrem – estes vagões ficam, inclusive, fora da plataforma – que é mais curta no aeroporto!
Confuso, né?

Por causa desse estranho sistema, alguns fatos curiosos acontecem:
- Quem está em Marlboro ou em Rhodesfield, e quer ir ao aeroporto, tem que tomar o trem na direção de... Sandton! Nessa estação, tem que sair do vagão em que estiver (um dos traseiros), e ir para um dos vagões da frente, para só então seguir rumo ao aeroporto, passando, novamente, pela sua estação de embarque! De Rhodesfield até o aeroporto, a pé, gasta-se cerca de 10min – de trem, quase meia hora!
- Da mesma forma, que embarca no aeroporto e quer ir a Marlboro ou a Rhodesfield tem que, obrigatoriamente, ir até Sandton (depois de passar em sua estação de destino, sem, no entanto, poder descer de seu vagão, cuja porta não se abre), mudar de vagão, e retornar na direção do aeroporto.
- O pior acontece quando alguém não presta atenção às instruções, e acaba entrando no vagão errado. Isto ocorreu hoje: Uma família estava em Sandton, e queria ir de trem a Rhodesfield. No entanto, embarcaram num vagão da frente (expresso ao aeroporto). Ao passarem por Rhodesfield, notaram que as portas do vagão não se abriram... tiveram que ir até o aeroporto. Lá, perceberam que não poderiam trocar de vagão – os vagões dos passageiros que vão a Rhodesfield não têm acesso à plataforma do aeroporto! Tiveram, portanto, que permanecer no vagão em que estavam, e retornar a Sandton. Só então puderam trocar de vagão, e voltar na direção do aeroporto, descendo na estação de Rhodesfield. Portanto, em vez de uma viagem de uns 10min, por causa de um engano na escolha do vagão, levaram quase uma hora!

Fiquei pensando qual seria o motivo para esse funcionamento... Perguntei aos funcionários do Gautrein – e ninguém soube (ou quis) me explicar. É assim, e ponto final!
Desconfio que seja para separar turistas e trabalhadores... Há dois perfis principais dos possíveis usuários do trem: o turista que se hospeda em Sandton; e aquele que lá trabalha, mas mora perto de Marlboro ou de Rhodesfield. No caso do turista, ele só se utiliza mesmo das estações terminais (Sandton e aeroporto), não tendo necessidade de subir ou descer nas intermediárias. Já o trabalhador não se utiliza da estação do aeroporto – também para ele, o sistema é bastante satisfatório – a passagem, inclusive, é bem mais barata! É muito raro que alguém queira ir do aeroporto para Marlboro ou para Rhodesfield, e vice-versa. Portanto, o sistema atende bem a necessidade de quem tem um desses dois perfis mais comuns... e eles não se misturam!!! Os turistas se utilizam dos vagões dianteiros, os trabalhadores viajam nos vagões traseiros!
Por que essa separação??? Sempre que me informei sobre os trens urbanos, aqui em Johanesburgo ou na Cidade do Cabo, fui fortemente desaconselhado a utilizá-los. Disseram-me que os trens eram mal freqüentados e perigosos. Suponho que seja esse o motivo – pelos menos neste início de operação: manter um “trem de turistas” e um “trem de trabalhadores”, sem misturar seus passageiros nos vagões...
Seria isso uma espécie de “apartheid” disfarçado??? Espero estar enganado nesta minha conclusão...




estação do Gautrein no aeroporto de Johanesburgo - plataforma curta, apenas para os 2 vagões da frente!

Nenhum comentário:

Postar um comentário